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  • Ju Tolêdo

Causas da depressão: quais são elas?

Atualizado: 23 de jan.

A depressão pode ter várias causas. Como ninguém é igual a ninguém, uma pessoa pode passar a sofrer desse mal por um motivo bem diferente de outras. Além disso, em uma mesma pessoa, podem haver várias causas de depressão que, juntas, formam o estopim ideal para que o problema se desenvolva. Em resumo, podemos dividir as causas da depressão em 4 grupos:

  • Fatores biológicos e genéticos: alterações nos níveis de neurotransmissores, alterações hormonais e predisposição genética

  • Perfis e características psicológicas: neuroticismo, pessimismo, pessoas com altos níveis de exigência e perfil controlador

  • Acontecimentos de vida e fatores ambientais: estresse diário, morte de amigo ou ente amado, episódios marcantes ou grandes perdas, eventos grandiosos e positivos, chantagens emocionais, bullying, agressões e abusos psicológicos, abuso físico ou sexual, dificuldades de convívio, doenças graves, gestação e pós-parto, outras doenças e problemas de saúde

  • Outros comportamentos: isolamento social, abuso de substâncias e vícios, uso de medicações específicas

Causas da depressão

É importante entendermos que o funcionamento do nosso corpo é fruto de uma combinação única: a nossa vida. Nós somos o resultado de fatores genéticos, ambientais, comportamentais, biológicos, sociais, psicológicos, alimentares... É por isso que, quando falamos de problemas de saúde não transmissíveis, não conseguimos identificar uma única causa, ou mesmo, causas muito específicas.


Explico melhor: uma pessoa que teve covid sabe que foi contaminada por um vírus. Existe uma causa específica, que é o vírus. Já no caso de doenças não transmissíveis, como é a depressão, acontece uma combinação de fontes, chamadas de fatores de risco. O próprio nome já explica: fatores de risco são situações ou fatores que aumentam as chances de uma doença acontecer. Mas para facilitar a nossa conversa aqui no blog, chamaremos os "fatores de risco" de "causas", ok?


Causas da depressão: fatores biológicos


Alterações cerebrais: Há uma série de evidências científicas de que a pessoa que desenvolve depressão possui alterações relacionadas a substâncias reguladoras do trabalho cerebral, os chamados neurotransmissores. Neurotransmissores são substâncias que participam da transmissão dos impulsos nervosos e regulam a química cerebral, afetando diretamente o humor, sono, disposição, aprendizagem, estado de alerta, dentre outras funções cerebrais. Em geral, problemas nos níveis de produção e/ou na utilização dos neurotransmissores serotonina, dopamina e noradrenalina, são considerados causas de depressão.

Alterações hormonais: hormônios e cérebro trabalham de forma íntima, controlando sono, apetite, desejo sexual, dentre outras ações e funções. Problemas nas glândulas paratireoides ou adrenais, por exemplo, podem aumentar os riscos de depressão. As flutuações hormonais são muito mais comuns em mulheres, especialmente devido à nossa natureza reprodutiva. Eventos como o período pré-menstrual, gestações, parto e menopausa são marcados por fortes oscilações que impactam diretamente na química cerebral, podem causar depressão.

Genética ou histórico familiar: sabemos que há um componente genético que aumenta as chances da depressão se instalar, especialmente em parentes de primeiro grau (pais e irmãos). Mas essa predisposição não é uma sentença, ok? O que se herda não é a doença em si, e sim, a vulnerabilidade para que ela se desenvolva. Pode ser que na sua família haja um histórico de depressão, com várias pessoas acometidas pela doença, e isso não quer dizer que você também será. Por outro lado, mesmo que não haja predisposição, os demais fatores de risco podem desencadear um quadro depressivo.

Causas da depressão

Existem perfis psicológicos mais susceptíveis à depressão?


Os estudiosos dizem que sim. Isso porque o perfil psicológico de uma pessoa, basicamente, determina como ela reagirá aos problemas e desafios da vida. Mas é preciso tomar muito cuidado ao tentar definir rótulos com base na personalidade de cada um. Pessoas tímidas, tranquilas, ansiosas, extrovertidas, superficiais... todo e qualquer outro perfil pode desenvolver a depressão. Contudo, existem alguns traços específicos que aparecem com maior frequência em portadores de transtornos depressivos. São pessoas pouco flexíveis, estressadas e que tendem a reagir mal às adversidades comuns da vida.


As características psicológicas que favorecem o aparecimento da depressão são:


Neuroticismo e pessimismo: tendência a experienciar emoções negativas. São pessoas que vivem em maior instabilidade emocional, que geralmente interpretam situações normais como sendo ameaçadoras. Normalmente não toleram pequenas frustrações, têm poucas esperanças, são emocionalmente reativas, vulneráveis ao estresse e ansiosas.


Altos níveis de exigência: pessoas com altos níveis de autocrítica, que se cobram demais, apresentam dificuldades para relaxar ou solicitar ajuda de outras pessoas. São muitas vezes vistas como perfeccionistas.


Perfil controlador: típico de pessoas que necessitam ter controle sobre tudo e todos, ou que dependem excessivamente de satisfazer as necessidades próprias e de terceiros.

Causas da depressão

Causas da depressão: acontecimentos e fatores ambientais


Certamente esses são gatilhos que podem desencadear depressão em pessoas susceptíveis. Os acontecimentos mais comumente associados à depressão são:


Estresse diário: em vários casos o estresse pode vir após o diagnóstico de depressão. Contudo, é comum que o estresse emocional diário, discussões frequentes em casa ou as pressões de trabalho sejam apontados como causadores da depressão. A pessoa vivencia um esforço constante para dar conta de vários "papeis" simultaneamente (familiares, profissionais e sociais). Não raro a depressão vem associada à Síndrome de Burnout e Transtorno de Ansiedade generalizada (TAG).


Morte de amigo ou ente amado: a morte de um filho, pais ou cônjuge, por mais que seja de causas naturais, pode funcionar como um gatilho para que a depressão se instale.


Episódios marcantes ou grandes perdas: o término de um casamento, a perda do emprego ou a traição de um amigo podem representar grandes perdas. O impacto de cada acontecimento vai depender do quanto o "sujeito ou objeto" perdido é importante para cada pessoa - e claro, de como ela encara essa perda. Na psicologia é muito comum ouvirmos o termo "luto" não apenas para a morte física, mas para a perda ou despedida de algo que não estará mais presente em nossas vidas. Um claro exemplo é a aposentadoria, em que a falta da rotina de ir ao trabalho, bem como um possível sentimento de inutilidade, podem ser gatilhos para que a depressão se estabeleça.


Eventos grandiosos e positivos: quando algo muda em nossas vidas, mesmo que seja algo positivo, sentimos necessidade de adaptação e, até mesmo, desconforto. É assim quando nos casamos, formamos, mudamos de emprego ou de país. Nesses casos, em pessoas predispostas à depressão, o estresse da mudança também pode atuar como um causador de depressão.

Causas da depressão

Chantagens emocionais, bullying, agressões e abusos psicológicos: quem sofre humilhações constantes ou vive em um ambiente de desencorajamento, pode começar a pensar que os insultos que ouve são verdades. Mais do que isso, a pessoa pode estar tão presa psicologicamente, que passa a acreditar que essa é a única realidade que ela poderá viver, tendo que se manter nesse ambiente tóxico o resto da vida. Tais condições são potenciais causas, não só de depressão, como de outros transtornos psiquiátricos.


Abuso físico ou sexual: também pode levar à baixa autoestima, medo, culpa, angústia, vulnerabilidade psicológica, perda da confiança em si mesmo e nos outros, bem como outros sentimentos e sensações causadores de depressão. Muitas vezes a depressão é resultado de abusos que já cessaram há anos, mas que continuam vivos no coração e na mente do abusado.


Dificuldades de convívio: tanto os problemas mentais, como características de personalidade que dificultam a convivência, podem levar ao isolamento, à expulsão de grupos ou exclusão do convívio familiar. Quando alguém têm dificuldades para se ajustar às regras de convívio social, essa pessoa pode ser impactada pela solidão e, consequentemente, pela depressão.


Doenças graves: muitos portadores de doenças graves, especialmente doenças crônicas como demência, câncer, HIV, diabetes, síndrome do intestino irritável, lúpus, fibromialgia, obesidade, enxaqueca crônica e problemas de infertilidade, enfrentam sentimentos de desesperança e, até mesmo, de solidão. Sua condição, a depender do grau de evolução da doença, requer o contato direto com situações de preconceito, tratamentos dolorosos e/ou com fortes efeitos colaterais, dores intermináveis, dependência física e emocional de terceiros, mudanças radicais no estilo de vida, gastos financeiros e, sobretudo, com o medo de morrer. Todo esse contexto pode causar depressão, não só no portador da doença, mas nos familiares e cuidadores.

Causas da depressão

Gestação e pós-parto: nas duas situações acontecem muitas mudanças psicológicas, físicas e hormonais. Isso sem falar na mudança inegável, permanente e, muitas vezes, estressante, na vida de uma mulher que se torna mãe. Certas mulheres são particularmente vulneráveis a uma variação do transtorno chamada depressão pós-parto. Essa depressão pode permanecer mesmo após os primeiros meses ou anos de vida do bebê.


Outras doenças e problemas de saúde: ferimentos severos na cabeça, hipotiroidismo, deficiência de vitamina B12 e transtornos psiquiátricos correlatos podem também podem causar desequilíbrios na química do cérebro, gerando sintomas depressivos.


Outros comportamentos que podem levar à depressão:


Isolamento social: seja pelas dificuldades de convívio citadas acima, por afastamento da rotina de trabalho (como no caso da aposentadoria) ou por questões de saúde (como foi o caso da pandemia ou em portadores de doenças que dificultam a mobilidade), o isolamento social também pode causar depressão em função de medo, culpa ou solidão.


Abuso de substâncias e vícios: o uso de álcool, cigarro, jogos de azar, internet, remédios, drogas lícitas (remédios) e drogas ilícitas como válvula de escape pode acabar se tornando mais um problema. Além do problema social do vício, pode haver alterações da bioquímica cerebral e gastos financeiros excessivos e descontrolados. Tudo isso pode iniciar ou piorar uma crise depressiva.


Uso de medicações específicas: há diversos medicamentos que podem causar depressão. Isso é muito sério, específico, individual e deve ser conversado com seu médico (tanto com o seu psiquiatra, quanto com qualquer outro médico que tenha prescrito medicamentos para qualquer problema de saúde).

"A depressão é um fenômeno bem mais complexo e heterogêneo do que gostaríamos que fosse (...) No campo dos estudos sobre a depressão, o conhecimento é vasto, enquanto as verdades absolutas são raras (...) No entanto, se estivermos imbuídos do combustível poderoso do amor ao próximo (altruísmo), esse conhecimento quase insignificante será capaz de grandes efeitos terapêuticos, mesmo que tais efeitos não possam ser cientificamente considerados como verdades absolutas (em um determinado momento)." Ana Beatriz Silva, Mentes Depressivas
 

Fontes utilizadas neste post:

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